"Não me atrevo a dar-me uma nota"

O presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, defendeu hoje que a economia começa a dar sinais positivos, dois anos depois de ter chegado ao poder e de um processo de "decisões duras, difíceis e de quem ninguém gosta.
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"Não me atrevo a dar-me uma nota. Nem para me castigar, nem para me congratular. A nota faz-se no final do exame, no final da legislatura", disse Rajoy, entrevistado pela RNE, dois anos depois da sua chegada ao Governo e numa altura em que o executivo se multiplica em discursos e intervenções otimistas.

Rajoy defendeu medidas como o aumento de impostos, incluindo o IRPF (equivalente em Espanha ao IRS), afirmando que "não havia outra alternativa" perante "um défice descomunal" e as dificuldades de financiamento nos mercados.

"Tomámos decisões duras, difíceis e de que ninguém gosta. Creio que já há alguns resultados e veremos mais durante 2004. A economia não se compõe com uma norma ou um discurso", disse.

Nas últimas semanas, especialmente depois da saída formal de Espanha da recessão, no final do terceiro trimestre, Rajoy e vários membros do seu Governo têm-se multiplicado em declarações otimistas e de confiança.

"Trata-se de crescer e melhorar as receitas. Estou em condições de dizer que não haverá ajustes tão importantes como os que temos tomado até agua. Mas temos que continuar a fazer reformas para ser mais competitivos", disse Rajoy.

"Somos o país da UE onde mais crescem as exportações. Estamos em inflação negativa, não crescem os preços. E os dados de outubro são melhores do que os de outubro do ano passado", disse ainda.

Apesar do otimismo, os principais indicadores económicos continuam a ser negativos, com destaque para o desemprego com quase mais um milhão de desempregados nos últimos dois anos e menos 870 mil a trabalhar. O salário médio caiu 0,5 por cento.

Apesar de, formalmente, a economia espanhola ter saído da recessão técnica, globalmente, o PIB caiu 2,5% nos dois anos de Governo do PP.

Mesmo no mercado exterior, onde os dados são mais positivos, o crescimento das exportações é hoje mais reduzido (5,7%) do que quando Rajoy chegou ao Palácio da Moncloa (cresciam a 7,6%).

A queda do investimento das empresas também continua a cair, descendo 6,6% (mais duas décimas), acumulando uma queda de 11% desde que Rajoy chegou ao poder. A produção industrial também acumula uma queda de 6,2 por cento.

Nos últimos dois anos o crédito novo às empresas caiu 21% e o crédito às famílias desceu 27 por cento.

Mesmo no componente que mais marcou a agenda do Governo, a consolidação das contas públicas, os dados dos últimos dois anos são pouco otimistas, apesar dos fortes cortes em gastos sociais, despedimento de funcionários e aumento de impostos.

O défice público aumentou em 2012, para 10,6% (com o valor do resgate à banca) e a dívida passou de 70% para 92% do PIB.

Positiva foi, claramente, a melhoria no risco da dívida - medido pelo diferencial entre os títulos espanhóis e alemães a 10 anos -- que era de 467 pontos quando Rajoy chegou ao Governo, caindo agora para cerca de 235 pontos.

Esta melhoria não surgiu sem sobressaltos, como em julho do ano passado quando alcançou o recorde de 637 pontos, mesmo depois dos ajustes mais duros que pretendiam acalmar os mercados.

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